sexta-feira, 20 de junho de 2008

That's the way it crumbles, cookie-wise


Inverno em Nova York. Um corretor de seguros de uma grande companhia vive seus dias com a esperança de ser promovido e melhorar de vida. Para isso, empresta seu apartamento alugado, muito bem localizado, para os figurões da empresa, sob a promessa de boas menções e recomendações de seu nome. Ele faz hora extra, fica desabrigado no frio da noite, mantém uma agenda para controlar quem usará o apartamento em qual noite, tudo uma subserviência calculada para satisfazer os caprichos amorosos de seus superiores.

Ingredientes para um drama, sim, mas junte Jack Lemmon e Billy Wilder e o que você tem é um conto de fadas. C.C. Baxter (Lemmon) está, obviamente, incomodado com a situação, tenta revertê-la mas, submisso, acaba cedendo, e parece sempre confiante de que seu sacrifício será pago no final. Talvez, de todos abusados que o cinema já criou, ele seja o que menos se importa. Existe algo de nobre nisso, mas também uma canalhice. Ele não desmente, por exemplo, a idéia dos vizinhos de que é um mulherengo. De início, tem uma queda pela srta. Kubelik (Shirley MacLaine), muito embora não deixe de pensar nela apenas como uma conquista difícil, comentada pelos homens do prédio.

Até que um dia um de seus "clientes" lhe dá dois ingressos para um musical em troca do apartamento cedido. Ele convida a srta. Kubelik, mas ela tem outro compromisso, outro encontro. No entanto, como supostamente não ia se demorar muito, poderia encontrá-lo depois. Ele espera, espera e ela nunca vem. Obviamente, porque na magia das histórias bem contadas, ela está onde ele menos esperava: no seu apartamento com o outro homem.

Muitas outras coisas óbvias acontecem depois, a graça do filme é a paixão com que cada personagem cumpre seu papel e seu destino. Baxter continua achando que uma promoção vai resolver todos seus problemas e que suas noites solitárias, no final, serão honrosamente recompensadas com a companhia da ascensorista, a srta. Kubelik; esta, cai no papo do sedutor casado que lhe promete mundos e fundos.

Lemmon nunca deixa a tragédia anunciada transbordar, pelo contrário, seu otimismo e aceitação às vezes beiram a superficialidade, mas tanto melhor para o filme! Sentimos pena dele e nos identificamos, mas ele parece não conseguir chegar àquela conclusão apressada mas tão humana, nessas circunstâncias, de que a vida não presta. Mesmo quando quebra, ele quebra com classe, suavemente, com uma lucidez surpreendente. MacLaine também está perfeita para o papel da vítima de sedução, a moça ingênua de bom e puro coração que se perde de amores pelo homem errado. Os dois são figuras raras mas não impossíveis de se encontrar hoje em dia.

Claro que no final tudo se acerta. Ela reconhece o valor que o agora desempregado e arrasado Baxter sempre lhe deu e fica com ele. Assim como é claro que, por mais que os dois sejam figuras raras, na vida real isso jamais aconteceria. Mas isso é pobrema meu. Fôssemos pela vida real e só teríamos mais um filme chato independente que dura no máximo 3 ou 4 anos na memória das pessoas. Billy Wilder não fazia algo assim, para nossa sorte. The Apartment é uma das maiores provas.

Shut up and deal
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Um comentário:

Lisa disse...

eu ia fazer um comentário, mas... I can't spell!