terça-feira, 24 de junho de 2008

Luana

Luana dos Santos Figueiredo, 21 anos, estudante de artes visuais em faculdade particular. Mora com os pais, mas tem planos de morar sozinha "em breve".

Luana acordou feliz. Tinha sonhado com ele. Há dias andava perturbada porque o seu professor de Antropologia Visual finalmente resolveu prestar atenção nela. Sonhou que estava com aquele vestidinho azul, o cabelo preso, e eles caminhavam por uma longa alameda, dizendo coisas boas, das quais, infelizmente, ela não conseguia se lembrar. Logo mais, beijaram-se e ela sentiu dentro de si um calor inédito, original, como supunha sua imaginação.
Gérson era seu namorado. Já estavam juntos há dois anos, e tinham aquela cômoda e comovente relação de namorados perfeitos. Ela o amava, sabia disso, pensava até em morar com ele, antes de se casarem. E era sempre com uma ponta de amargura que se lembrava disso, agora, nesses últimos dias de flerte com o professor. Chegou a imaginar que estava com ele enquanto fazia sexo com Gérson, e como foi bom.
Mas o que mais a incomodava era um pensamento mesquinho do qual não conseguia se desvencilhar. O nome do professor era tão lindo, e ela, uma mulher tão segura, certa de si, merecia um nome daquele. Que futuro poderia ter com um Gérson? E era sempre assim, desde o primeiro mês de namoro; ela inventara um daqueles apelidos ridículos dos quais sempre tivera horror, pelo simples fato de que chamá-lo de Gérson era constrangedor, como era constrangedor apresentá-lo a seus amigos. Sempre percebia uma pontinha de malícia em seus olhos, sabia que eles comentariam depois que o namoradinho da Luana era até bonitinho, mas com aquele nome...
Cansou de ficar na cama pensando sobre essas coisas, e o sorriso do sonho já se fora. Era uma manhã quente, ela percebeu que estava um pouco enjoada. Como sempre, olhou-se no espelho que havia ao lado da cama e seus olhos estavam inchados. As mechas de cabelo desgrenhadas caíam sobre seu olho esquerdo. Sentiu-se bela, mesmo assim. O sol lá fora dava forças para que se vestisse, linda, perfumada, hoje tinha aula com ele, sabia que ele a convidaria para um café e quem sabe...
Ligou para Gérson. Combinaram de se encontrar no dia seguinte, ele a apanharia em casa. Pensou durante alguns minutos, tomando seu leite matutino, se iria de saia ou de vestido. Decidiu pela saia, uma minissaia preta que uma vez um amigo disse que a deixava irresistível. Sabia que as roupas tinham história, mas nunca pensava nisso. Luana não gostava do passado, vivia para o presente e para o futuro, o tempo em que seria plenamente feliz. Depois de ter vestido a minissaia, pôs o sutiã, sempre um desgosto. Ela quase não tinha seios e imaginava os decotes de suas amigas e o poder que eles exerciam; pensava, algo desesperada, em agarrá-los, enfiar a cabeça neles, o que a deixava profundamente frustrada. Nessa hora, saía de frente ao espelho, como que num ritual do qual estava excluída. Decidiu então pela camiseta branca de gola em V, que deixava entrever o sutiã e o bico dos seios. Sentiu-se desejada, a boa sensação do sonho voltou, prendeu o cabelo e saiu do quarto, deixando para trás o trabalho de História da Arte que copiou da amiga e enxertou de frases soltas colhidas na internet.

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